No mês de janeiro, levantamos a bandeira para o assunto de Saúde Mental. Em um mundo de constantes transformações, onde tudo acontece rapidamente, normalmente com o uso de tecnologias “online” que são inquestionavelmente benéficas, mas que também podem gerar medos, angustia, frustrações, devido a um modelo de relações interpessoais criado a partir delas, notamos que tais mudanças impactam diretamente na nossa saúde cognitiva.
Recentemente lançado, o filme Bird Box, que traz como tema de fundo a angustia e a depressão – diagnósticos que têm crescido exponencialmente em todo o mundo, assim como os casos de suicídio – mostra a necessidade de discutir sobre o assunto. No Brasil, os números de casos de suicídio são preocupantes. De acordo com o Ministério da Saúde as regiões Sudeste e Sul do país lideram o ranking de casos de suicídio. A faixa etária com maiores índices se concentra dos 14 aos 39 anos. Não há um consenso sobre o que tem causado este aumento nos diagnósticos de depressão, ansiedade e ocorrências de suicídio, mas é possível suscitar hipóteses tais como o ritmo e o estilo de vida da sociedade atual.
A sobrecarga de compromissos e exigências variadas às quais submetemos as crianças desde cedo, na infância, como por exemplo, uma agenda recheada de atividades extracurriculares, escolas em período integral, sempre acompanhada de uma cobrança incessante por desempenho, aliado à utilização, por elas mesmas, de muitas “telas” como celulares, tablets, computadores, jogos virtuais, acabam por provocar nelas não somente um esgotamento mental, mas também comportamentos agressivo e consequentemente baixo limite a frustração, visto que a todo momento estão envolvidos com algo: informações, jogos, distanciando-as do contato consigo, mais especificamente, do tédio. Esse distanciamento, longe de ser integralmente benéfico, limita a capacidade das crianças de sentir e suportar aquilo que não as agrada.
Não somente as crianças que vivem nesse ritmo e estilo de vida frenético e baseado em telas. Os jovens e adultos também vivem dessa forma e estão profundamente imersos na vida online, conectados o tempo todo, seja no trabalho, na casa, durante o lazer, vejamos os conceitos modernos como a “internet das coisas”. Concomitantemente ao aprendizado e usufruindo das novas tecnologias criamos uma necessidade de imediatez, tudo precisa ser rápido, inclusive o contato com o outro.
Assim como as crianças deixaram de brincar nas ruas, playgrounds, parques e demais locais, o que inexoravelmente impede-as de desenvolver inúmeras capacidades cognitivas, os adultos também deixaram de praticar o ócio, de contemplar o horizonte, de se permitir ficar consigo e com isso refletir sobre os momentos vividos, seus sentimentos, emoções e pensamentos. E o mais importante: suportá-los. A isso chamamos de “Resiliência Mental”, ela traz uma qualidade cognitiva ultrapessoal.
Saúde mental não é ausência de sentimentos como tristeza ou frustração, mas sim é a consciência e habilidade para caminhar por uma floresta onde não existem apenas belos caminhos, mas travessias sombrias e difíceis. Durante a caminhada haverá o desenvolvimento de uma sólida resiliência para os caminhos que ainda virão, sejam eles agradáveis ou não.
E como podemos promover a saúde mental? Com a propagação da informação, com a compreensão de que podemos pedir ajuda nos momentos da caminhada em que tudo parece nebuloso. É preciso reconhecer que temos limites e, a partir disso, solicitar auxílio.
Vanessa Cristina Dalaneze
Pós Graduanda no curso de Terapia Coginitivo-Comportamental pelo CBI of Miami;
Pós Graduada em Gestão de Pessoas e Desenvolvimento de Capital Humano pela UNIMEP;
Bacharel em Psicologia pela Universidade Paulista;
Extensão em Avalição Psicológica pelo Departamento de Psiquiatria da UNICAMP;
Membro da equipe do Projeto de Pesquisa “Avaliação e seguimento de pacientes com declínio cognitivo sem demência” da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Pesquisador responsável: Lucas Francisco Botequio Mella;
Curso de extensão “Alerta a Riscos de Saúde Mental decorrentes do uso de redes sociais e smartphones”. Programa Jovem Doutor – USP